04/04/2012

Pior Ideb do país, Alagoas atrasa ano letivo e tenta mudar educação pública

Enquanto em quase todo o país os estudantes já iniciaram o ano letivo de 2012, em Alagoas a educação está atrasada. Boa parte dos estudantes terminou as aulas de 2011 na última quarta-feira (28). Das 328 escolas públicas, 163 estão em reforma. O ano de 2012 ainda não começou em 127 escolas alagoanas. Em 17 delas, as atividades só vão começar no mês de maio. O atraso no ano letivo é apenas um dos problemas que o estado enfrenta com a educação. Alagoas ainda sente o golpe recebido há dois anos, quando a rede pública de ensino do estado recebeu a pior colocação na última divulgação do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) do Brasil, obtido com base em dados avaliados em 2009. A taxa de evasão escolar chegou a 25%, mais da metade dos alunos do ensino médio não estudam na série ideal de acordo com sua idade, e o governo encontrou um déficit de 2 mil professores para dar aulas na rede pública. Segundo a Secretaria Estadual de Educação, são 8.412 professores efetivos no estado, o resto do corpo docente é formado por mais de 2 mil monitores (professores temporários) para suprir a carência no quadro de educadores. De acordo com o governo, o piso salarial dos professores em regime de 40 horas semanais é de R$ 1.187. Para piorar, a estrutura de muitas escolas começou literalmente a ruir. Em agosto, o teto da Escola Estadual Rosalvo Lôbo, que fica no bairro de Jatiúca, em Maceió (AL), desabou, com sua estrutura comprometida por ação de cupins. Ninguém se feriu porque as aulas tinham sido suspensas depois que uma aluna e um vigia foram baleados por um rapaz que entrou atirando na escola. O segurança morreu.


Em Paripueira, no litoral norte do estado, o teto da Escola Estadual Julieta Ramos também esteve prestes a cair. A reforma não ficou pronta a tempo e os alunos foram transferidos para contêineres instalados de maneira improvisada em um clube da cidade.
VEJA O IDEB DA REDE PUBLICA NO PAÍS

Ensino FundamentalEnsino médio (*)
Estado5º ano9º ano3º ano
Acre4,24,13,5
ALAGOAS3,42,73,1
Amapá3,83,63,1
Amazonas3,83,43,3
Bahia3,52,93,3
Ceará4,13,63,6
Distrito Federal5,43,93,8
Espírito Santo4,83,83,8
Goiás4,73,73,4
Maranhão3,73,43,2
Mato Grosso4,84,23,2
Mato Grosso do Sul4,53,93,8
Minas Gerais5,54,13,9
Pará3,63,43,1
Paraíba3,62,93,4
Paraná5,34,14,2
Pernambuco3,73,03,3
Piauí3,83,53,0
Rio de Janeiro4,43,43,3
Rio Grande do Norte3,52,93,1
Rio Grande do Sul4,73,93,9
Rondônia4,33,53,7
Roraima4,23,73,4
Santa Catarina5,14,34,1
São Paulo5,34,33,9
Sergipe3,42,83,2
Tocantins4,43,93,4
(*) O Inep divulgou apenas o ensino médio geral do estado, incluindo as escolas particulares
Fonte: Ministério da Educação/Inep
Em outra escola de Maceió, a Professor Eduardo da Mota Trigueiros, não havia controle nos portões, por isso era comum encontrar mais estudantes fora do que dentro da escola. Os professores não cumpriam a carga horária. A merenda era inadequada. Em outubro, uma criança entrou armada na escola. Tanta precariedade fez com a secretaria decretasse a intervenção da unidade em novembro do ano passado.
Diante deste quadro, o governador Teotônio Vilela Filho decretou em janeiro a reforma em caráter emergencial em 163 das 328 escolas estaduais. De acordo com a Secretaria da Educação, o investimento será no valor de R$ 52,2 milhões. O dinheiro faz parte do projeto de Alagoas para tentar reerguer a sua educação.
A escala do Ideb, indicador que avalia a qualidade do ensino, vai de 0 a 10. Na última avaliação, em 2009, o Ideb do país foi de 4,9, segundo dados do Ministério da Educação/Inep. Na rede pública, a marca foi de 4,4, e na rede privada, 4,6. O Ideb da rede pública do estado de Alagoas é de 3,4 para os anos iniciais do ensino fundamental, e de 2,7 para os anos finais. Os números estão abaixo da média do Nordeste e ficam distantes da realidade de estados como Minas Gerais, São Paulo, Santa Cataria e do Distrito Federal(veja quadro ao lado).
O governo reconhece o problema e busca estratégias para reverter o cenário. "É um problema sério e histórico, não é algo novo, mas queremos melhorar esses índices. Estamos trabalhando duro para equalizar e melhorar a situação de nossas escolas", afirma a secretária adjunta da Educação de Alagoas, Josicleide Moura.
Josicleide diz que o governo vai investir em programas de formação para professores, abrir concurso público para suprir o déficit do quadro de docentes ainda neste ano e expandir a jornada escolas em 30 escolas para diminuir o problema da evasão. "Acredito que a questão estrutural interfere muito, não dá para estudar com medo de que o teto caia, o aluno não vai ter uma boa aprendizagem. Temos bons professores, vamos investir ainda mais na formação, após a reforma, acho que vamos conseguir dar um salto de qualidade no ensino do nosso estado."

Alunos da escola Julieta Ramos estão tendo aulas em um clube de Paripueira (AL) (Foto: Vanessa Fajardo/G1)Alunos da escola Julieta Ramos estão tendo aulas em um clube de Paripueira (AL) (Foto: Vanessa Fajardo/G1)
Aulas só em maio
Depois que o vigia foi assassinado, uma aluna baleada e o teto desabou, pelo menos 500 alunos da Escola Estadual Rosalvo Lôbo pediram transferência. Atualmente, a unidade atende cerca de mil estudantes que concluíram o ano letivo de 2011 na última quarta-feira (28). A previsão é de que as aulas e o calendário deste ano sejam retomadas no dia 7 de maio.
A diretora Lucy Jane Claudino Lins diz que a escola só volta em melhores condições quando as obras estiverem concluídas. Durante a reforma, 9 das 17 salas de aula foram interditadas e metade dos alunos foram ter aulas em outra escola, a Théo Brandão. Quem ficou teve de receber a merenda no corredor, porque a cozinha e o refeitório também foram fechadas. "O pior é a incerteza sobre o término da reforma. Há uma angústia dos pais, professores e alunos", diz Lucy.
A coordenadora regional, Alexandra Alves Pedrosa de Araújo, afirma que a secretaria vai buscar uma alternativa para que a escola funcione em outro espaço, caso as obras não sejam concluídas até o início de maio. "Desde que não haja perigo aos estudantes, vamos, sim, iniciar as aulas."
Vandete Campos reclama da falta de estrutura da escola dos filhos (Foto: Vanessa Fajardo/G1)Vandete Campos reclama da falta de estrutura da
escola dos filhos (Foto: Vanessa Fajardo/G1)
A técnica de nutrição Vandete Campos, de 38 anos, tem dois filhos e uma sobrinha matriculados na Rosalvo Lôbo. Ela criticou a qualidade do ensino oferecida. "Antes eles estudavam em uma escola do município, era bem melhor. As turmas tiveram de ser divididas por causa da reforma, foi um caos, e o calendário está atrasado, o que é muito ruim."
Professora de ciências e biologia Luciana Trindade, de 37 anos, afirma que a escola tem vários problemas. "Não sabemos como vai ser o retorno das aulas. Há 2 anos houve uma reforma, mas foi uma verdadeira 'maquiagem'. Grande parte dos educadores é monitor e não trabalham satisfeitos. Não temos porteiro, às vezes os professores e até a diretora têm de ficar no portão."
Luciana conta que colou um adesivo na janela da sala dos professores que foi atingida pela bala do atirador que invadiu o colégio em agosto. Até agora o conserto não havia sido providenciado.
‘Ideb do fundo do poço’
Nomeada pelo governo estadual interventora da escola Eduardo da Mota Trigueiros, a unidade com o pior Ideb do estado, Helena Soares acredita que os números da avaliação devem subir. "Temos um 'Ideb de fundo do poço'”, diz a interventora. “A escola tem de melhorar não para mostrar para o governo, mas para o bem do aluno.”
Voltar a ter aulas regularmente já vai melhorar a situação, segundo ela. “Também é necessário identificar os alunos do 6º ano que estão com problemas, eles vêm das redes municipais e com defasagem. Há instrumentos para melhorar o ensino, mas não havia boa gestão."
Educação em Alagoas (Foto: Vanessa Fajardo/G1)A Escola Professor Eduardo da Mota Trigueiros está fechada para reforma (Foto: Vanessa Fajardo/G1)
As aulas na escola ainda não começaram porque as reformas não foram concluídas. A interventora diz que o atraso não é um problema, pois haverá aulas aos sábados para que o ano letivo se encerre em janeiro de 2013.
Josicleide Moura, secretária adjunta da Educação de Alagoas (Foto: Vanessa Fajardo/ G1)Josicleide Moura, secretária adjunta da Educação
de Alagoas (Foto: Vanessa Fajardo/ G1)
Em entrevista ao Bom Dia Brasil, exibida no dia 21 de março, o secretário de Educação de Alagoas, Adriano Soares, que está de licença médica, disse que os alunos de Alagoas não serão prejudicados com as reformas em 163 escolas estaduais. “Os alunos terão os 200 dias-aula, garantidos pela legislação. Se houver necessidade de aulas aos sábados, nós estaremos dando aula aos sábados, dentro de uma estrutura adequada para o estudo.”
Bons exemplos
Em meio aos problemas, a educação de Alagoas tem também exemplos positivos que podem servir de norte para a reforma no ensino. Em Maceió, o Centro Educacional de Pesquisa Aplicada (Cepa) abriga 11 escolas para mais de 13 mil alunos e tem o único observatório astronômico do estado.
Educação em Alagoas (Foto: Vanessa Fajardo/G1)Complexo de escolas em Maceió tem observatório astronômico (Foto: Vanessa Fajardo/G1)
O município de Coruripe registrou média 4,5 na rede pública, marca superior à das escolas públicas do Rio de Janeiro (4,4), e teve ainda um estudante filho de pescador que ganhou medalha de ouro na última Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep).
“Temos escolas que já alcançaram o Ideb de 2015”, diz a secretária-adjunta Josicleide Moura, citando a escola Jorge de Lima, em União dos Palmares, que obteve nota 5,1 no Ideb para os anos iniciais do ensino fundamental, acima da média nacional e marca equivalente à do estado de Santa Catarina. “Estamos indo lá para ver o que ocorre de diferente, qual o compromisso dos professores. Queremos tentar socializar experiência e equalizar a situação em todo estado, sabendo que cada região tem sua especificidade.” informações do G1.

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