Motorista bateu na asa de avião para evitar decolagem em pista clandestina.
O policial federal que, na terça-feira (1º), tomou a decisão de bater o carro em um avião carregado de produtos contrabandeados para evitar a decolagem diz que se sente "muito orgulhoso em poder ter ajudado". A imagem rodou o mundo: foi vista na Rússia, Estados Unidos, China.
Os três policiais falaram pela primeira vez com uma equipe de reportagem depois da interceptação da aeronave e voltaram com o Fantástico ao local da operação. Questionado sobre como não perdeu o foco na hora, ele responde: "Até eu fiquei impressionado".A ação cinematográfica aconteceu em Pontal, região de Ribeirão Preto, SP. O avião estava pronto para fugir. No carro da Polícia Federal, estavam três agentes. Um deles dirigia o veículo. “Quando eles perceberam a nossa chegada, deram ordem para a aeronave arremeter. Tocamos na ponta da asa, para ela perder o equilíbrio e parar”, lembrou o policial.
O Fantástico teve acesso com exclusividade a novos trechos do vídeo da Polícia Federal, que mostram o início da operação. Os agentes conversam com outra equipe que está por perto, também de vigilância, até que chega a notícia de que o avião pretende decolar.
Os policiais investigavam a quadrilha havia um mês e já sabiam o dia do pouso da aeronave e a região onde aconteceria. Da estrada, eles avistam uma movimentação no meio do canavial. Duas caminhonetes tentavam impedir a passagem. Nos veículos, estão os criminosos que iriam pegar o contrabando.
“Nós demos prioridade em pegar a aeronave que estava com o produto do crime”, afirmou o policial. Ao se aproximar do avião em movimento, um agente federal se prepara para atirar, mas o colega que dirige o carro a quase 120km/h toma uma decisão. “Vou bater na asa, vou bater na asa. Não atira, não”, diz.
No avião estava só o piloto, que foi preso. “Quando eu conversei com ele, ele disse que nunca imaginava que a gente ia proceder dessa forma. Tinha certeza que conseguiria fugir”, contou o policial.
Mesmo com o vidro do carro destruído, os outros dois policiais perseguem o resto da quadrilha. Quatro suspeitos foram encontrados e presos. A aeronave carregava computadores portáteis, impressoras e câmeras contrabandeadas do Paraguai. O valor da carga era de R$ 200 mil, segundo a Polícia Federal, que investiga agora quem seriam os compradores da muamba. "Eu vi que ia dar para chegar nele [o avião] antes de ele sair do solo. Porque se saísse do solo, já não seria possível. O acidente seria mais sério", conta o policial.
A região de Ribeirão Preto faz parte da chamada “rota caipira” do crime organizado. As grandes plantações de cana-de-açúcar servem de camuflagem para os aviões das quadrilhas. Em sobrevoo de helicóptero, o agente da Polícia Federal que participou da operação mostra algumas pistas clandestinas que existem no meio do canavial, usadas por traficantes e contrabandistas.
“Na região, em um raio de 50 km, temos mais de 20 pistas", apontou o policial. "Nós recebemos denúncias de que, no mínimo, duas vezes por semana, descem aeronaves na nossa circunscrição”.
Nos últimos cinco anos, foram apreendidos 12 aviões na região de Ribeirão Preto. Quatro deles traziam contrabando e oitos traziam drogas. “Sai a cocaína da Bolívia, Colômbia e Peru. E a maconha, via de regra, do Paraguai. Uma parte fica na região de Ribeirão Preto, outra parte vai para São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte”, contou o delegado de Polícia Federal Fernando Battaus.
Os agentes federais recebem orientações de como agir em situações como a ocorrida na terça. É uma espécie de manual de interceptação de aeronaves criminosas. "Se ele [o avião] tivesse parado ou iniciando o deslocamento e os policiais estivessem em uma posição em condições próximas, com segurança, para dar tiro onde fica o motor, isso seria feito. O motor pararia de funcionar e a aeronave não sairia mais do lugar", diz o agente.
Ele explica que o carro da polícia bateu do lado esquerdo do avião porque, assim, depois da colisão, o lado do motorista do veículo geralmente fica menos danificado e o agente ainda consegue dirigir. Ele também conta que existe outra tática para quando o carro da polícia fica bem de frente para a aeronave em movimento: “Nós paramos a viatura no meio da pista e os policiais saem dela para não ter risco de se machucar. A opção do piloto foi de tentar a decolagem. Se houvesse um impacto, o impacto vai ser violento, mas aí é uma opção dele”.
O agente da Polícia Federal que interceptou o avião na terça tem 13 anos de carreira e mais de 50 operações de combate ao crime organizado no currículo. “Na hora, você está com a adrenalina alta e a cabeça focada no fato. Mas, depois, é uma coisa emocionante. Você se prepara para isso, o dia que chega e dá certo, você fica muito feliz”, disse ele.
“Tanto traficantes de drogas como contrabandistas irão pensar duas, três vezes, antes de praticar o crime na nossa região”, afirmou o delegado Fernando Battau.
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